A Cascata do Barbelote (2010)


Acalque aqui e advirta-se com este vídeo…

Andí paí com uma catarrêra, quái que nem saí do monte mái duma semana. A minha Maria, premêro, queria q’ ê cá fosse ô dôtor – pro jêto, tava com cagúifa q’ aquilo fosse a tal gripe marafada q’ eles paí falam… – mái, odespôs, c’m’ viu q’ isto era só uma constpação, disse-me logo:

– Ó homem, nã te rales q’ isso é cmo ôtro que diz: uma constpação tratada dura trinta dias e nã tratada dura trinta e um…

E, atão, foi-me fazendo p’ aí uns chás nã sê do quem e a coisa foi-se compondo. Q’ ela, antão, já sabe que, cá pra mim, há chás que nã antram na minha goéla… Olhe, prixempes, o de hortalão, era o que faltava… Des q’ aquilo, nas minhas idades, dá um resultado escamungado e nã vá um homem fcar paí de jum e abstenênça…

Mái, cmá coisa já ia correndo bem, um destes dias abalí caminho do monte dos mês compadres. Nã foi lá gande idéa quo caminho tá um coisinho imbalsado e aquilo tinha caído um garrão na madrugada, as tôiças tavam todas orvalhadas. Mái leví umas botas de cano alto, lá me defendí c’m’ pude.

No caminho pá Cascata do Barbelote dá-se com esta vista…

Ia chigando perto da rua deles, desato a ôvir duas criaturas:

– Tal tem achado a esta enverna toda, prima Qestóida?…

– Dzer a verdade, já tá tudo prí bem orvalhado… A rôpa, bem na lavo, mái atão e pa ela secar… É uns trabalhos, parente Zé…

– S’ os mês cudados fossem esses… A rôpa, ê cá inxugo-a méme ô pé do fogo, cmá minha Larinda – que Dés a tenha im bom lugar – fazia.

– Eh!… Mái isso fica tudo chêrando a fumo qué um desconsolo… E é só rôpa miúda, q’ umas peças assim maiorinhas cmé que mecêa as pindura nas costas duma cadêra?

– Ê cá m’ amanho… O que me tem dado cudados ô bem fêto nã é isso. É umas batatas quê tinha lá bem abrulhadinhas pa samear e, com esta enverna toda, nã nas dí metido debaxo terra.

– Samêe-as um destes dias, em o tempo alevantando aí um coisinho. Inda vai a tempo…

– Agora?!… Têm uns abrulhos quái da minha altura… S’ as ponho na terra, ficam com eles um palmo de fora, vem p’ aí algum geadão, daqueles de dente de cão, nã escapa nem uma…

Em caindo um bom garrão dágua, a Cascata do Barbelote fica neste estado…

– Ó parente, mecêa tamém… Sossegue p’ aí quo bom tempo logo parêce…

Isto era o mê parente Zé Caçapo a conversar com a minha qemade Qestóida. Logo, nã deram pre mim. Más ê cá dí assim uma tossidela c’m’ quem tava a alimpar o pigarro e eles viraram-se pô mê lado. A cmad Qestóida aprevêtô logo o atôpo pa me pôr à balha:

– Olha o compade Refóias… Atã o qué se tem fêto? Já há uns belos dias que nã no via. Tem andado com medo do tempo ó quem?…

– Que jêto medo… Tá-se é munto melhor aconchigados ô pé do fogo do qandar a panhar frio aí pro mêo das sobrêras…

E o parente ‘Verruma’ – ‘Verruma’ é o anexim do parente Zé Caçapo – semp munto cão, meté-se logo tamém:

– Pôs, lá isso medo nã há-de mecêa ter… Tenho ôvisto falar que, quái tôdes dias o têm lombrigado lá pàs bandas do Brabelote… Com chuva e navoêro e tudo… Tem pa lá algum arrenjinho ó quem?… Tenho más é que ter uma conversa com a cmad Maria. Ah isso tenho…

– Lá tã vancêas semp com coisas… Nã pode uma pessoa fazer coisíssema nenhuma qanda logo tudo a bispar… Fui lá sa senhora. E o q’ é que têm com isso?

– Nã le parêça mal, parente. Isto é só uma conversa… Mái tamém nã le gabo o gosto d’ ir bem lá pa uns furjacos daqueles fazer nã sê o quem, im dias que nã se vê quái um palmo à frente do nariz…

Pa quem se quêra molhar e ir lá pa debaxo dela, tira retratos assim à Cascata do Barbelote…

– Bem sabe que fui ver aquela queda d’ água que tá lá e, qondo ele chove a precêto é q’ ela tem que ver. E vomecêa se tevesse querido ir com-migo cmê cá le disse na béspra, nã tinha fecado repeso.

– Ehq!… Querendo ver água vô ali im baxo à rebêra… Mái diga-me lá uma coisa. Aquela água toda que cai lá na Cascata do Brabelote vem d’ adonde, sabe?

– Se mecêa lá fosse, via logo dadonde vinha… Vem daqueles córgos todos q’ abalam lá de cimba do lado da Moita e dos Lamatêros… Dadonde é que queria que viesse?..

– Sê cá, aquilo béque-me nã tem assim munta comprimenta e ajunta logo um poder d’ água qué uma coisa temente…

– Lá isso é verdade. Mái aquele vertente da Fóia sempe foi um sito de munta água. E vindo um tempo assim chuvoso cmo ele tem vindo agora, ajunta lá uma rebêrada qaté…

– Há-de ter que ver…

– Se queria saber, fosse lá com-migo. Agora, só se pedir ali ô Zé Manel que lamostre os retratos q’ ê cá tirí e pus na internet… Tá bem que nã fecaram gande coisa qo tempo tava ruinzíssemo – chovia, fazia navoêro, aventava… era tudo contre – mái semp’e dá pa ver quasequer coisinha.

Em envernando bem cmo este ano, a Cascata do Barbelote fica desta manêra…

– Ehq, ê cá nã tenho vagar pa essas coisas da internet ó lá o que é…. Vô-me más é caminho de casa tratar dos bichos qisto anoitêce logo im mêa tarde…

– Ó parente Zé, nã tenha medo qo comptador nã le morde!… Se nã quer ir ver ô do Zé Manel, venha com-migo e vê-se àlém no meu. Leva é um coisinho mái tempo. Q’ ele até aquecer…

– Nã, nã… Vô-me andando quos bichos têm fome. Esta manhã só le dí pa lá um retraço àquela mêa-dúiza de bicos que tenho lá no galinhêro e, ô sovão, joguí-le uns sarguaços pô do curral e nem o vi qele tava incafuado lá pa drento da cuêra. Fiquem-se com Dés.

O mê parente ‘Verruma’ é assim. Em le dando um derrepente, abala e vai-se imbora. Vá lá qinda se despediu, q’ ele, qondo calha, nã diz nada e qondo se dá por ele já ele estrapôs pô lado do monte. Más a minha cmad Qestóida tamém gosta do palêo e fecamos os dôs a dar à tramela:

– Ó compade Refóias, mecêa diz q’ essa coisa da Cascata do Barbelote que levava munta água, mái atão ê cá, uma ocasião, fui lá e aquilo tava tudo quái seco… Veja já se tá paí a infiar alguma pua à famila…

Só más esta qé pa verem bem a lindeza daquilo…

– Que jêto?!… Calhando, mecêa foi lá no Verão…

– Pôs, nã malembra bem, mái aquilo havera de ser fins de S. Tiago prencipos dagosto…

– Atão, nesse tempo, o qué que mecêa queria… Aquilo corre água im forte é agora no enverno. Em dêxando de chover, a água vai-se desgotando e chega uma altura qé cmaqui a nossa rebêra. Ó seca dum todo ó só leva alguma pinguinha dágua que resuma do terreno nalgum sito mái fresco.

– Ai sê cá gostava de ver isso, assim ô natural, qondo ela corre munta… Mái atão, o mê Jôquim nunca sopõe a essas coisas…

– Tem toda a rezão, qemadre. Aquilo, quem vai lá agora nesta altura, nã dá o tempo pre mal impregue. Pode é panhar com uma carga dágua im cimba da lombêra e tem de puxar bem plas canôiras qo caminho é munto imbargoso.

– Pôs, isso atão, caminho mái impinado do qàquele é má d’ incontrar…

E mecêas, mês belos amigos, os mái foitos, em podendem logo dão lá uma bispadela assim num dia que caia uma boa ripada dágua.

E, pro caminho, tenham munto cudadinho nã estraguem umas tôiças verde-negras que pre lá há, parte das vezes, masturadas com balsas. Sã adelfêras. E tamém nã façam selada com as folhas delas. Senão, esticam o pernil.

Saudinha da boa.

Deixe um comentário