Avélas ou Mirôilas

Sabe o que são avélas ou mirôilas?

Avélas e mirôilas são sinónimos que, no linguajar monchiqueiro, significam papas de milho.

Avélas ou mirôilas

As avélas podem ser feitas de várias maneiras e têm diversas designações.

Nas apresentadas nestas fotografias, temos um tacho de arame cheio de papas com tomates, mas poderiam ser papas-soltêras, papas-môiras, papas com torresmos, com côve ou com chôriça e outras mais…

Consulte estes e muitos outros vocábulosos que fazem parte da cultura oral da Região de Monchique, adquirindo a 2ª edição do Glossário Monchiqueiro.

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Avélas ou mirôilas

O Monte Saquir no Inferno de Dante

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Por sete dias, a Montanha Sagrada  –  Monte Saquir para os árabes, Serra de Monchique para nós  –  viu-se, novamente, envolvida no Inferno de Dante.

A freguesia do Alferce ficou reduzida a cinzas e grande parte da de Monchique ardeu também. Restou a de Marmelete que foi poupada este ano.

Pouco mais há a dizer. Todos já sabem o resto. Uns com uma versão, outros com outra.

Há dois anos, publiquei um pequeno vídeo no Youtube, feito no ataque final a um outro incêndio em que uma das frentes foi dominada na Ribeira de João de Gales, Marmelete (https://www.youtube.com/watch?v=KE7HVycso3Q&t=6s). Nesse vídeo, terminava com as seguintes palavras:

Ainda este ano, no próximo, no seguinte e para sempre, teremos mais… Não se iluda caro compatriota. Enquanto os donos dos terrenos e o estado não limparem o mato, enquanto os criminosos forem tratados como pessoas de bem e os cidadãos cumpridores foram tratados como criminosos, enquanto os meios priviligiados de ataque aos incêndios estiverem nas mãos de privados, enquanto o nosso país for gerido por políticos como os que temos tido desde há séculos e, em especial, nas últimas décadas, nada mudará para melhor!…“.

Nada tenho a acrescentar…

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A Magnólia do Convento – 2011


Magnólia Multicentenária do Convento de Nossa Senhora do Desterro ou dos Franciscanos – Monchique (Magnolia grandiflora)A Magnólia do Convento béque-me tá vai nã vai…

– Ó c’pad’ Jôquim, tenho andado im cudados premode àlém a Magnólia do Convento (Magnolia grandiflora). Olho pra ela e béque-me nunca a vi daquela manêra…

Isto era ê cá, uma tarde destas, lambareando com o mê compade Jôquim, os dôs assantados ali à sombra duma f’guêra dele, dêxando passar o tempo. À sombra, é c’m’ quem diz, debaxo dela, que folhas inda nã as tem. E à míngua d’ ôtre assunto mái jêtoso.

Ele, dezer a verdade, até que havia ôtas coisas qua gente bem podia conversar, qu’ isto agora, nã se fala senã na falta de dinhêro pre toda à banda e ôtas parvoêras dessa coisa dos partidos e tal e tal, mái cá a gente os dôs nã se metemos nisso…

– Olhe, tamém tenho levado repáiro que se passa p’ àlém quasequer coisa. O qué nã sê, mái qu’ ela tá com munto má cara, lá isso tá…

Nesse entrementes, parêce o ti ‘Verruma’ – o parente Zé Caçapo – tamém sem nada pa fazer e todo fêtinho pa vir sovinar a gente, cmo é uso dele.

Magnólia Multicentenária do Convento de Nossa Senhora do Desterro ou dos Franciscanos – Monchique (Magnolia grandiflora)Os tróços mái grossos tã a fecar tôdes podridos. E folhas… pôcas já tem e bem marelas…

– Logo agora quê cá vinha de boa avêa pa buber aí um calcesinho dela quo Refóias tevesse paí pa dar à gente… Daquela qu’ ele fez o ano passado… Nã é duma bagaja qu’ ele, ás vezes, usa a dar, que nem se dá bubido… Nem sê d’ adonde é qu’ ele acareô tal abobraja…

– E mecêa que nã viesse logo à pida e com conversas estragadas… Nã trôxe uma garrafinha lá da sua premode quem? Ó tem medo de s’ apresentar com ela?… Nã tem nada im ser pôco mái que frôxa…

– Ai frôxa!… Tomaram vancêas possuir um material daquela quôlideza… Tem vinte e um garantidos… Pra más que pra menes!…

– Atã trazesse-a pá gente ver isso… Mái vomecêa é mái fònica que sê cá o quem…

– Olhem, dêxem lá isso quê cá digo já ali à minha Questóida que traga uma garrafinha da minha e dê uma rodadinha à gente…

Saltô logo o mê compade Jôquim pa atalhar a conversa, nã fosse a gente se marafar p’ ali uns com os ôtes.

Magnólia Multicentenária do Convento de Nossa Senhora do Desterro ou dos Franciscanos – Monchique (Magnolia grandiflora)Inda nã há munto tempo qu’ ela era assim. Foi na era de 2007. No mês de S. João…

– Tava, atão, a gente, munto bem sa senhora boa vida, a falar a respêto da Magnólia do Convento qondo o parente Zé se pôs aqui a matinar com o raça da aguardente… Mái nã les parêce qu’ ela tá aqui tá despachada?…

– Nã me diga uma coisa dessas, home!… Uma arve daquelas com quái quatecentos anos…

– Quatecentos… é c’m’ quem diz… O que tá àlém na tableta é mái de duzentos…

– Atão e quatecentos nã é mái de duzentos?!…

– Nã se estique, parente, qu’ as ciroilas sã curtas…

– Qual o quem?!… Sempe tenho ôvisto dezer que quem na trôxe da Índia foi esse tal imbarcadiço que mandô fazer o Convento e despôs-je-a àlém, nessa ocasião. Ora o Convento foi inagurado… Qondo é qu’ ele foi inagurado, foi im…

– Nã sabe… Já vi que nã sabe!…

– Sê, sa senhora, más agora é que nã m’ alembra… Foi, foi… Olhe, nã me vem o ano à mimóira, mái foi pôcos anos entes da gente se ver livres dos Filipes. Qu’ isso sê ê cá muntíssemo de bem…

– Pôs foi. Foi im 1631. Agora se a Magnólia foi ó não despôsta nessa era é quê cá nã le sê dezer…

Magnólia Multicentenária do Convento de Nossa Senhora do Desterro ou dos Franciscanos – Monchique (Magnolia grandiflora)Agora, olha-se p’ às bandas do Convento e vê-se esta desfortuna…

– Que tenha sido nessa era ó que nã tenha, lá bem velha é ela. E até dá remôrses a qualquer um vê-la assim… S’ esse tal Pero da Silva que a despôs voltasse agora cá e a visse naquela miséira, dava-le uma coisa, pobrezinho…

– Ora dava-le… E, más a más, qu’ ele, tá bem qu’ andava de barco, mái nã era paí um marujo qualquer, c’m’ mecêa disse. O homem, pro jêto, representava ser lá o chefe daquilo tudo na Índia…

– Calhando… S’ ele era o vice-rê, alguma coisa havera de mandar… Mái qondo se vi inrrascado no mar e aprometeu que, se escapasse, fazia o Convento, aí nã le servia de nada mandar…

– Olhe lá, parente Zé… Aí há uns quatro ó cinco anos, nã le tinha já caído uma grandessíssema pernada com o vento?… Tinha, nã tinha?
– Pôs tinha. Era quái do tamanho desta feguêra. Sem tirar nem pôr…

– E ele des que hôve um que a foi lá serrar e carregô-a pa fazer fogo im casa. Nã taria sido vomecêa?…

Magnólia Multicentenária do Convento de Nossa Senhora do Desterro ou dos Franciscanos – Monchique (Magnolia grandiflora)Faz três ó quatro anos, inda dava gosto olhar pra lá…

– Olhe lá, cuda quê sô dos sês ó quem?!… Ê só panho lenha adonde me pertence. E tenho lá munto pre donde escolher nas minhas sobrêras…

– Nã se inzáine, parente Zé!… Ê tava só a prècurar… Más aquilo, calhando, inda dé uma bela manchinha de lenha…

– Atã isso sabe-se…

– E nã les parêce que, se nessa altura, tevessem fêto alguma coisa, nã tinha nada im a arve, agora, tar nôtas condiçons?…

– Sê cá!… Ela já é tã antiga…

– Mái nã se tinha perdido nada im ter dado àlém um jêtinho àquilo, nã era dêxarem andar àlém o gado a estrumar daquela manêra e a arrojar aquela terra toda pra baxo c’m’ dêxaram… Já com o Convento é o mémo. Inda há-de cair dum todo…

– Olhem, mémo assim, inda tenho fé qu’ ela vá arriba… Nã sê que jêto, mái tenho aqui uma coisa que me diz que sim…

– Vai arriba, vai… Ê nã vô é lá pa debaxo dela, entes que me caia uma pernada daquelas im cimba do lombo e arrebente com-migo…

– Lá nisso nã dêxo de le dar os àméns. É preciso munto cudadinho nã vá um homem levar àlém uma tarôcada im forte…


Magnólia Multicentenária do Convento de Nossa Senhora do Desterro ou dos Franciscanos – Monchique (Magnolia grandiflora)Des que tem mái de duzentos anos. Pôs tem. Calhando vêo da Índia há uns quatrocentos… É o que tenho ôvisto dezer…

– Más ê cá, dezer a verdade, o que me dá mái pàxão é ver o vivente más antigo cá da nossa zona desparcer. E sem tampôco a gente saber que moléstia é qu’ ele tem. Inda más essa!…

– Ah isso é certo e sabido. Aquela arve é o vivente mái velho aqui desta serra toda. Nã tenho medo de dezer…

– Sósse aquela sobrêra àlém da Corte Grande ser inda más antiga. Sará?…

– Que jêto?!… Nã pense nisso!… Aquilo é uma sobrêra tamém munto valente, mái mái velha qu’ à Magnólia do Convento?!… Nã é, nã senhora! Cudo ê cá…

– De manêras qu’ o certo, o certo, é que a Magnólia do Convento tá com munto má cara e quem sabe lá o qué que se vai dar com ela. Más, agora, descorré-me aqui uma coisa da cabeça:

Esse tal amigo Pero da Silva nã sê se tá no céu se tá no enferno, mái cudo que teja no céu qu’ o homem fez o Convento e despôs a Magnólia, bem murêce… E, atão, tendo lá pazes com Dés Nosso Senhor ó com um Santo daqueles que mandem qualsequer coisinha, bem podia meter lá um empenho pa ver se a Magnólia inda nã ia desta…

– Faça isso, mê belo amigo Pero da Silva!… Fale aí com quem munto bem le dê jêto e nã dêxe a gente fecar sem a nossa Magnólia que mecêa despôs logo prebaxinho do Convento…

E vomecêas fiquem-se com Dés e até qua gente se veja.

α — ω

Nota: A Magnólia do Convento acabou por secar e morrer sem que nada de útil tivesse sido feito atempadamente para evitar esse ‘desastre’ ecológico e histórico para a nossa Região de Monchique.

Durante alguns anos, restaram o tronco e alguns galhos secos a testemunhar que ela existiu e a avivar a nossa tristeza por sabermos que morreu.

Magnólia Multicentenária do Convento de Nossa Senhora do Desterro ou dos Franciscanos – Monchique (Magnolia grandiflora)Citando o grande dramaturgo Alejandro Casona, ‘as árvores morrem de pé’!…

Será caso para acrescentar agora: depois, são abatidas…Magnólia Multicentenária do Convento de Nossa Senhora do Desterro ou dos Franciscanos – Monchique (Magnolia grandiflora)

Só depois são abatidas…

Em Dia de Vera Cruz…

Igreja de Nossa Senhora do Pé da Cruz - MonchiqueA Senhora do Pé da Cruz e o sê rico felhinho, pobrezinho, tôde fêto num frangalho…

Im Monchique, no três de Maio, dia de Vera Cruz, inda se usa a ir à missa à Igreja do Pé da Cruz. E, este ano, isso dé-se, c’m’ de questume. Ê cá fui lá más a minha Maria. E o Vergil Penusga tamém lá parceu. Mái só m’ incontrí com ele já no fim daquilo tudo, qu’ a famila era munta e a ermida nã é nada camposa.

Tamém, nã sê que jêto terem quái tôdes o mémo questume marafado de, à medida que vã chigando, im vez de se acomodarem lá pà frente pô pé do altar, ficar tudo logo ali ô pé da porta. Ora, os que chegam ô fim, c’m’ ê cá m’ aconteceu, têm que fecar ali da banda de fora… Ô sol, à chuva e ô vento, consoante o tempo que faça, tá bom de ver…

Dezer a verdade, desta vez, panhí ali uma soalhêra tã danada nos cascos que chigô a pontos q’ até cudava que já tinha os miôlos a fritar. E mái q’ uma pessoa ingrilasse lá pa drento, nã dava visto nada premode tar incandeado do sol. E, ôvir o qu’ o senhor Prior diz, só espetando munto bem a orelha…

Igreja de Nossa Senhora do Pé da Cruz - MonchiqueA Vera Cruz, calhando, nã tem nada im ser esta…

– Olha o Vergil!… Atã tamém vieste à missa hoje? Mémo ô dia de semana?!…

– Que jêtes não?!… Foi sempe mê questume vir a esta festa, nã havera de faltar agora que já tô fêto num cangalho e, nã tardando, tarê qu’ ir prestar contas ô Criador…

– Cruzes!!… Mái que conversa é essa, primo Vergil?!…

Saltô logo a minha Maria, toda chêa de cagúifa, qu’ ela inda é um coisinho mái velha do que ele e alembrô-se que a hora dela tamém nã havera de tar munto longe…

– Eh’q, ê cá sempe gostí de vir à missa, mái dá-me uma gande paxão olhar ali pá imaja da Nossa Senhora com o filhinho dela no colo, morto e todo chêo de cortiladas… Olhem, désna da premêra vez qu’ aqui antrí, faz mái de cinquenta e tal anos, fequí com esta coisa na idéa…

Igreja de Nossa Senhora do Pé da Cruz - MonchiqueEm Dia de Vera Cruz, abre-se a porta da Senhora do Pé da Cruz…

– Mái, dêxando isso da mão, nôtes tempes, isto nã era assim só uma missazalha, ô fim da tarde, pa mêa-dúiza de gatos pingados. Era uma festa c’m’ devia de ser…

– Pôs era. Mái atão, isto os tempos tão tôdes mudados. E munta sorte temos a gente d’ inda haver quasequer coisa…

– Lá isso é verdade. Mái c’m’ à coisa vai, nã sê, nã sê… Já repàiraste c’m’ é que tão ali as paredes da parte de drento da Capelinha?…

– Já vi, sim. Munto bem, até. Belarentas qu’ até dá dó e o cafelo todo a cair… Mái nã vás sem reposta qu’ isto já foi fêta há mái de 330 anos, mê belo amigo…

– O quem?!… C’m’ é que tu sabes disso? Ó tás a querer antrar com-migo?…

– Olha àlém pr’ àquela pedra pre cimba da porta e logo vês o qu’ é que diz lá…

Igreja de Nossa Senhora do Pé da Cruz - Monchique…e, quái ô solpostinho, há uma missa p’a quem quêra lá ir…

E nã é que diz mémo lá qu’ a ermida foi fêta na era de 1680?… Aquilo custa-se a ler que, pra mim, é quái béque-me latim, mái foi um tal Afonso Anes qu’ ê cá nã les sê dezer quem ele era que mandô fazê-la e des qu’ a pagô da alsebêra dele. Bendçoado!…

– Pá idade que tem, até que nem tá assim munto velha… Nã te parêce, Vergil?

– Metôbrigado… Já foi arrenjada qontas vezes despôs disso?… Até já le prantaram ali umas imajas fêtas de cera pa le dar ôtros ares. Nã nas viste ali ô pé das janelas?

– Atã nã vi?!… A minha Maria prècurô-me s’ aquilo tamém sariam do tempo antigo. Mái, despôs, é qu’ a gente le descorreu qu’ elas eram das qu’ eles fazeram paí, o ano passado, na Semana Santa. Pa serem das deste ano, já tão assim um coisinho enravelhadas…

Igreja de Nossa Senhora do Pé da Cruz - MonchiqueAquemedaram pa lá umas estátuas de cera fêtas o ano passado…

– Sã do ano passado, sim, qu’ ê cá sê que são. Elas tão assim tã enravelhadas nã sê s’ é premode calor que panham ali no verão ó se do qu’ é que é, mái uma coisa te digo, um destes dias inda derretem p’ ali todas. A pomba até já tem a asa aberta…

– Atão, s’ ela tá, béque-me, a querer voar, nã admira ter a asa aberta. As duas asas…

– Nã é isso, parente! Tem mémo uma asa esbroncada. Aquilo foi a cera que ressequiu e abriu uma fresta. Ó saria o artista qu’ a fez que quis dêxar logo aquilo assim?

– Só-se!… Alguma vez o homem ia fazer uma coisa dessas?!… Atã, eles tão dejando é de fazerem tudo o mái bem fêtinho que possa ser e haver…

– Olá!… Isso é o que tu cudas… Inda ontordia hôve quem me dezesse que lá no estrangêro tem havido quem faça mêa-dúiza de riscos num papel que ninguém sabe o qu’ aquilo representa e despôs dizem qu’ é um quadro do melhor e vendem-no pre uma fertuna…

Igreja de Nossa Senhora do Pé da Cruz - Monchique… mái, andam, andam, inda elas se derretem sem ninguém dar per ela…

– Isso é os estrangêros que sã tôdes parvos. Agora a gente que somos escretos, nã se dêxamos ir atrás disso…

– Pôs é. Somos tã sabidos, tã sabidos que tamos c’m’ tamos…

E a conversa desandô p’ ô lado da política. Qu’ isto, agora, anda aí tudo enfluído com o falatóiro dos partidos. Uns que fazeram ôtros que nã fazeram, uns que fazem ôtros que nã fazem, uns que vã fazer ôtros que nã vã fazer. Mái esses assuntos nã são pr’ aqui chemados.

E, atão, munta saudinha pa tôdes e até ôtro dia.

A vida é uma passagem…

Parafraseando os ‘Jafumega‘ na sua canção ‘Ribeira‘, diria que a vida é uma passagem para a outra margem.

Mas há quem passe pela ponte, com vista para o horizonte florido; quem atravesse de barco, a vau ou a nado, lutando contra a força da corrente; e quem seja impiedosamente arrastado pelas águas revoltas e atirado ao fundo da ribeira ou, em alternativa, depositado no lugar mais inóspito da margem oposta…


Alqueva

Arrenca

Sabe o que é uma arrenca?

Arrenca é como se designa, no linguajar monchiqueiro, o ato de arrancar a produção subterrânea duma sementeira ou plantação agrícola.

Como se trata dum trabalho árduo e, consoante a sua dimensão, mais ou menos demorado, era hábito ser efetuado por diversas pessoas, que podiam ser familiares ou amigos e, no final, ser comemorado com uma adiafa (pequena festa de comes e bebes).

Veja na fotografia abaixo, uma arrenca de batatas e consulte este e muitos outros termos que fazem parte da cultura oral da Região de Monchique, adquirindo a 2ª edição do Glossário Monchiqueiro.

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Arrenca de batatas

Arrã

Sabe o que é uma arrã?

Arrã é como se designa no linguajar monchiqueiro.

Trata-se dum simpático anfíbio de que existem várias espécies na nossa região.

Veja a que lhe apresento nas imagens abaixo, uma Rã-dos-pântanos ou Rã-europeia-comum (Pelophylax ridibundus), a maior rã da Europa e consulte este e muitos mais termos que fazem parte da cultura oral da Região de Monchique, adquirindo a 2ª edição do Glossário Monchiqueiro.

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Rã-dos-pântanos ou Rã-europeia-comum (Pelophylax ridibundus) Rã-dos-pântanos ou Rã-europeia-comum (Pelophylax ridibundus)

Rã-dos-pântanos ou Rã-comum-europeia (Pelophylax ridibundus) Rã-dos-pântanos ou Rã-europeia-comum (Pelophylax ridibundus)

Arco-da-velha

Sabe o que é um arco-da-velha?

Arco-da-velha, é como se designa arco-íris no linguajar monchiqueiro.

Dizia-se, e era convicção de muitas pessoas da região, que se alguém conseguisse chegar ao ponto onde o arco-da-velha tocava no chão sem que este desaparecesse, encontraria lá enterrada uma panela cheia de moedas de oiro.

Embora alguns dos nossos conterrâneos tenham enriquecido sem que para tal houvesse uma explicação plausível, nunca constou que o tenham conseguido por este meio. Mas sempre ouvi dizer que alguns teriam encontrado panelas com esse tipo de moedas enterradas em paredes de casas antigas…

Veja um arco-da-velha ou arco-celeste na fotografia abaixo, mas pode consultar estes e muitos mais termos que fazem parte da cultura oral da Região de Monchique, adquirindo a 2ª edição do Glossário Monchiqueiro. Faça a sua encomenda pelo email refoias@gmail.com ou telemóvel 933 204 852. Ou ainda por mensagem privada no Facebook: https://www.facebook.com/refoias.

Arco-da-velha ou arco-celeste

Dia da Espiga 2011


Dia da Espiga 2011 MonchiqueA mêo da manhã, lá abalí caminho do Barranco dos Pisons com a famila da Junta…

Mái uma Quinta-fêra d’ Às-sunção, mái um Dia da Espiga. E quem é que nã havera d’ ir pô coçáiro num dia destes?!… Atã ele até é o feriado cá do nosso concelho… E digam-me lá se nã foi uma coisa bem pensada? À uma, que sempe tevemos este questume – quer-se dezer, más as melheres quos homens… – de s’ ir prí panhar flores pa fazer o Ramo da Espiga. À ôta, calha sempe ô dia de semana – quinta-fêra…

Dezia-me o parente Tóino Rabaça, uma tarde destas, – foi demingo passado – àlém no adro da igreja, contando-me que a melher dele, a parenta Larinda do Tòjêro, tã penas chigô a casa, nessa tarde de quinta-fêra, assim pindurô o Ramo da Espiga pe trás da porta da antrada e aventujô o ôtro que lá tinha do ano passado:

– Se nã fosse isso, cmé quma pessoa, despôs, tinha saúde, sorte e fartura tôdô ano?…

– Pôs, pôs… E alegria, tamém. E o qué qua gente fazia, em se vendo aflitos premode os trovons?…

– Inda más essa. É qu’ aquilo, em fazendo trovons, uma pessoa quem-ma um pèzinho daqueles – prexempes, um coisinho d’ olvêra – e já nã cai nenhum prigo adonde a gente teja…

Dia da Espiga 2011 MonchiqueE ia tudo munto advertido…

– Tal e qual, parente. Sem tirar nem pôr, foi o que se dé com-migo, inda este enverno. Uma ocasião, já bem de nôte, vem um trovão, ôvi-se aquele grande barrano, a minha Larinda, qué do mái medroso que possa ser e haver, panhô uma rabana tã grande ó tã pequena, abala a fugir da cama drêto à casa de fora, nã tardando nada, já ê cá me chêrava a chamusgo…

– Quem-mô-se nalguma brasa do lar ó o prigo tinha caído lá?…

– Nã senhora, parente!… Foi bescar a caxa de forfes, puxô fogo ô Ramo da Espiga, aquilo tava já bem munto seco, alô im menes de nada…

– Atã dé fim dele todo logo duma assantada…

– Olhe, quái que dava… Mái, dezer a verdade, ê cá tamém m’ alevantí logo atrás dela, dí-le uma manita e inda le salví uns qontos panascos…

– E os trovons, parente? Desparceram ó quem?…

– Inda soô ôtro, bem forte, ali pô perto, mái a gente usa tamém a pedir logo à Santa Bárba e demos im ôvi-los lá mái pô longe…

– Santa Bárba bendita, que no céu tá escrita e na terra abençoada…

– Foi isso mémo, parente Refóias. Foi isso mémo… Aquilo, a santa Bárba, é uma santa que nunca falha. Em havendo trovons, reze-le sempe a oraçanita dela. E veja lá se já alguma vez me caíu algum prigo im cimba da minha casa. Nunca!…


Dia da Espiga 2011 MonchiqueDora im qonto, panhava-se mái uma florzalha pa compôr o ramo…

– Atã, daquela vez que mecêa inda morava lá na Chã da Mula Velha, nã se dé uma coisa dessas? Deziam paí, béqueme, que tinha caído lá um prigo…

– Mái nã foi im riba da casa, parente… Foi numa sobrêra que tava lá quái no bico do cerro, uma bela sobrêra, más inda era longinho do mê monte. Uma coisa assim c’m’ daqui àlém a S. Roque. Mái estramecé tudo, nã cude…

– Numa sobrêra, parente Tóino? Mái, atão, ê cá tinha idéa que foi num madronhêro…

– Eh’q!… Sósse caíu mái algum im tempos quê cá inda nã morava lá. A sobrêra até fecô toda arrachada e perdé-se e tudo… Aquilo antrô-le pro bico, vêo pro tróço abaxo im parafuso e meté-se pra terra adrento, veja lá…

– E a sobrêra caí logo fêta im fanicos?…

– Nã… Ela arrachô d’ alto a baxo, fecô com a corcha toda descolada do tróço, mái levô inda um belo tempo a cair pô chão. Premêro, secô-se. Despôs, passados aí uns três ó quatro envernos é quo tróço fecô todo podrido e ela amajulô no chão.

– Pro jêto, aquilo era um sito munto dado a essa coisa dos trovons…

– Ora se era!… Eles, béque-me, até atraíam lá. Havia quem dezesse que, drento do cerro daquela banda de lá, logo preciminho da pôça da Córga Alta, havia umas pedras que tinham azôgue e, atão, os trovons acudiam lá tôdes…


Dia da Espiga 2011 MonchiqueA mê do caminho, ó pôco más, já ele havia quem tevesse uns ramos mái vestôsos que sê cá o quem…

– Mái, voltando ô que se tava a falar, que tal achô a festa lá no Barranco dos Pisons?…

– Cá pra mim foi do melhor. Ali a mê da manhã, meti-me na camineta da Câmbra, levaram-me até lá, já a minha Larinda tamém lá tava que tinha ido a pé com a famila da Junta pa arrenjar o tal Ramo da Espiga. Ôvi a missa lá à rés do barranco, assantado numa pedra, e despôs, inchi o bandulho com umas guelosêras que tavam lá praquelas menzas…

– Pôs… Ele era frango assado, panito do casêro, bolo de tacho e prí fora… Pa nã falar numas garrafinhas que tamém lá tavam…

– Cale-se aí, parente!… Vinho, melosa, aguardente… Cada qual apresentava o melhor que tinha. Ê cá proví umas qontas, más aquela do ti Costa… Ai a do ti Costa!… Homem marafado!… Aquilo nem se sintia às goélas abaxo…

– Era da boa, sa senhora, quele tamém me dé um calcesinho e sôbe-me que nem ginjas. Más ê cá tava mái afalcoado que vomecêa quê tamém fui à pata désna da Vila até lá, atrás da famila da Junta.

– Nã tevesse sido parvo. Fosse com-migo na camineta que nã se pagava nada… Se tava com medo de pagar belhete, já sabe que a Câmbra nã leva nada. É tudo de graça.

– Lá tá mecêa!… Nã foi lá premode isso. Ê cá é que gostí d’ ir assim a pé. Bem sabe qué uma coisa quê gosto de fazer é andar…

– E que tal?


Dia da Espiga 2011 MonchiqueA Missa Campal, tá bom de ver, é tôdes anos no mémo sito…

– Ora… Foi do melhor. A lonjura nã era munta, a companha era boa, aquilo, a maior parte da famila era mulherio e môces-pequenes – aqueles meçalhos fardados de calçanitos e camisa v’rde-negra…

– Ah, os escutêres…

– Sa senhora. E já sabe cmé qué o mulherio. Vai sempe tudo na galhofa… Era a ver qual é que se apresentava com o Ramo da Espiga mái bonito. E olhe que parceram lá algumas que saberam compor aquilo muntíssemo de bem…

– Parente, nã conhêce aquele ditado que diz que ‘quem sabe da luta é quem na labuta‘? E elas é que lidam com flores é que sabem compor o Ramo…

– Tá bem visto… Já há bem munto tempo quê cá nã ôvia essa. Tamém vomecêa sabe buber umas boas copadas d’ aguardente. Toda a vida panhô madronho e estilô…

– E mecêa, não?!… Olhe que lá nesse dia, ê bem no vi já com olhes tôdes pisques e a rir e mangar c’m’ nã é sê questume…

– Isso é que tava sastefêto…

– Ê bem vi que tava. E sê munto bem o perquém. Foram aqueles calcesinhos dela que mecêa imborcô lá da do ti Costa, masturada com a dôtres amigos que tamém levaram umas garrafinhas da deles…

 – Nã diga isso, parente Tóino!… Inda alguém cuda paí quê cá sô algum relaxado…

– Nã digo tanto. Mái que mecêa, parente Refóias, já tava um coisinho escorvado, nã diga que nã tava…

 – Alguma vez?!…


Dia da Espiga 2011 MonchiqueÀ hora das sopas, parêce sempe alguma coisinha pa se dar ô dente…

– Atã e despôs, naquele estado, cmé que dé voltado pa casa?…

– Nã goze quê cá nã tava escarado. Vá lá que tevesse, assim, um coisinho pô antrado… Más, olhe, despôs daquilo tudo, tive lá um amigo bom que me vê trazer à porta de casa. Calhô-me mémo ô queres. Nã tive que tar à espera da via da Junta nem de me pôr a andar ôta vez a pé…

– Quem é ruim, tem sempe sorte…

Pronto, mês belos amigos, foi assim a minha Quinta-fêra d’ Às-sunção, mái conhecida pre Dia da Espiga.

Querendem ver retratos e videos, vã à internet ô Parente da Refóias.

E, fiquem-se com Dés.

Periquito-de-colar (Psittacula krameri)

Para ver o slideshow, clique na imagem, se faz favor.

O Periquito-de-colar (Psittacula krameri) é uma das raras aves da família dos periquitos e papagaios existente em liberdade na Europa.

Proveniente da Índia e de África como animal de estimação, é consensual que o seu desenvolvimento pela Europa fora se deve ao facto de alguns exemplares se terem escapado do cativeiro das gaiolas e adaptado ao novo habitat, reproduzindo-se de tal forma que, atualmente, se julga existir uma população aproximada dos cem mil exemplares, tendo no Reino Unido o seu núcleo mais numeroso.

Em Portugal também é avistado regularmente de norte a sul do país.

Como se pode confirmar nas fotografias deste slideshow, obtidas muito recentemente, é uma ave muito bonita e sociável, agradável de observar e com a qual dá gosto interagir.