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O ‘Pisolithus tinctorius‘ é um cogumelo bastante peculiar, de nome popular um pouco rude mas muito adequado: ‘Bufa-de-velha‘.
E digo adequado porque, na sua fase terminal de vida, se lhe tocarmos, larga os seus milhões de esporos para o ar, em forma de nuvem amarela e muito compacta.
É muito frequente e extremamente resistente. Como poderá verificar nas fotografias do slideshow, para se desenvolver, consegue até abrir uma brecha no asfalto da estrada e surgir à luz do dia…
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Ô ‘Pisolithus tinctorius‘, cá a gente, chama-se-le ‘Bufa-de-velha‘…
– O ‘pisolites’ quem?!…
– O ‘Pisolithus Tinctorius‘, ti Refóias…
– Q’é isso, home?…
– É assim q’eles alomêam essa cagmela. Pre menes, ê cá fui ver ali a uma coisa q’ele há na internet, chemada Wikipedia, e tá lá esse nome.
– Cagmela?!… Nunca dí pre ninguém chemar cagmela a isso…
– Atã, teja certo q’isso é uma cagmela tal e qual cm’às ôtras que prí há. E os que sabem dã-le o tal nome de ‘Pisolithus Tinc…
– ‘Pisolites’… Pôs olha, Zé Manel, isso nunca ôvi… Ê cá sempe tenho ôvisto é a famila daqui le chemar ‘Bufa-de-velha‘, com lecença da palavra, que nã te quero faltar ô respêto. Nem a ti nem mái ninguém…
– Isso é o q’a gente aqui, parvos, se le dé im chemar. Foi um petafe q’a famila de cá sempe teve foi esse. Em nã sabendem bem o nome duma coisa, enventam uma à nossa manêra… Agora veja lá se vai pôr isso aí na internet…
– E achas mal? Cada um desinrasca-se. Foi pre ‘Bufa-de-velha‘ q’ê sempre os conheci…
Qualquer sito le serve pa narcer…
– Mái tamém, nã vale abusar… ‘Bufa-de-velha‘… Tal é essa conversa!… Sempe podiam ter arrenjado um nome mái jêtoso…
– Olá, olá… Até parêce q’é alguma coisa do ôte mundo…
– E nã le parêce?!…
– Cá pra mim, té acho que le fica méme ô queres. Já repàiraste, qondo elas tão maduras, e l’incalhas ó dás uma tarôcada o q’é que se dá?…
– Ora… Sai uma remessa de…
– … de fumo…
– Qual fumo!… Aquilo parêce fumo mái nã é, ti Refóias…
– Fumo, digo ê cá… Ê sê munto bem q’aquilo nã é fumo. É uma pòzêra quasequer…
– Aquilo sã as sementes deles. Quer-se dzer, eles chamam-le, béque-me, esporos.
– Seja lá o que ser, já que sabes assim tanto, alguma vez viste algum narcer no mê duma estrada d’alcatrão?
Fazeram-le uma estrada d’alcatrão im cimba? Fura o alcatrão e pronto…
– Cmé q’havera de ver? Isso nunca se deu… Só se tver lá um monte de terra… ó esturme… ó coisa assim…
– Isso cudas tu. Pôs fica sabendo – e vem àlém o tê pai que nã me dêxa mintir, q’ele tamém viu – q’inda ontordia, ia-se a gente os dôs a caminho de Marmelete, à pata, e, num certo sito, pa melhor dzer, méme ô pé do Cerro dos Picos, tavam uma data delas…
Acode, logo, o mê compade Jôquim do Barranco, pai do Zé Manel:
– Umas já grandes ôtas não, tudo narcido no mê do alcatrão!… Faz verso e é verdade…
– Alguma vez?!… Hoje tiraram os dôs pa fazerem porra de mim, já vi…
– Nã é nada disso, Zé Manel. O q’o tê pai diz é a pura da verdade. Olha, parêce mintira, más as velhacas narceram méme debaxo do alcatrão. Alevantaram-no e ali fcaram espècadas…
– Só vendo… E méme assim, nã sê, na sê…
– Atã, calha méme bem, anda cá aqui com-migo q’é pra veres uns retratos q’ê cá les tirí…
– E isso fcô alguma coisa de jêto, compadre? É q’os sês retratos, d’ora im q’onto, ficam assim um coisinho manhôses…
– Lá tá vomecêa…
– Nã le pareça mal. Calhando, sô ê cá que já vejo pôco com estas lentes…
Falar verdade, nã me calhô aquilo munto bem e quái que me parcé mal, mái, méme assim, lá fui amostrar os retratos ôs dôs. Pai e filho. O q’é q’ê cá havera de fazer?…
Em tando maduro, lá vã as sementes pros ares…
E, pra mecêas verem o q’o tal “pisolites nã sê quem” é capaz de fazer, tamém les pranto aqui uns quatro ó cinco retratos, méme mal tirados e conto-les cmá coisa se passô.
Aquilo, pro jêto, as cagmelas tinham-se criado lá, o ôtro ano, qondo a estrada inda era uma carrelêra de terra. Dêxaram a semente, sa senhora boa vida, e desparceram, cme tôdes anos. Vai daí, a Cambra terminô alcatroar aquilo e foi o que fez.
De manêras que, as sementes – aquilo q’eles alomeam de esporos – fcaram imparêdadas debaxo do alcatrão e da brita. Ora, tã penas chigô a altura de darem cagumelas novas, aquilo há-de ter sido uns trabalhos… Más elas pertaram tanto ó tã pôco com o alcatrão que, foram, foram, arrebentaram com ele e parceram à luz do dia…
Más ê cá tamém tô cmo Zé Manel. Se nã visse nã acarditava…
Belharós é como se designa um abelharuco (Merops apiaster) no linguajar monchiqueiro. E se forem duas como nesta fotografia, chamam-se belharóses.
As belharóses alimentam-se de insetos voadores: abelhas, vespas, borboletas e outros…
Como pode ver na fotografia, as belharóses são lindíssimas e alimentam-se de insetos voadores. Mas têm um senão. Adoram comer abelhas…
E, naturalmente, têm os apicultores contra si…
No entanto, todos os anos, cá as temos a passar a primavera e o verão, nidificar em ribanceiras inacessíveis e a alegrar os nossos olhos…
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Por vezes, sabe bem fazer um pequeno passeio por lugares onde já passámos muitas vezes.
E quando temos a sorte de nos cruzar com uma manhã solarenga e calma perante certas obras do homem conjugadas com certas maravilhas da Natureza, ficamos com o dia ganho.
Foi o que fiz, um dia destes, pela margem direita do nosso rio Arade, a que, em tempos, dediquei o blogue, já extinto, ‘À Babuja do Arade’.
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A Lagartixa-do-mato-ocidental (Psammodromus manuelae) é uma espécie endémica da Península Ibérica, existindo em todo o território português e parte de Espanha.
Tem uma parente no norte de África (Psammodromus algirus) de que se individualizou há muitos, muitos anos. Na ordem dos 2 a 3 milhões, segundo os cientistas que a têm estudado.
Como é evidente nestas duas fotografias, pode apresentar diversas cores e tonalidades dependendo da época do ano e do local onde vive. Em qualquer dos casos, é sempre muito bonita.
Estes dois exemplares foram ‘apanhados’ em dois locais que distam uma meia dúzia de quilómetros um do outro, nas faldas da Serra de Monchique.
A maior Super Lua deste ano, pouco depois de nascer no princípio desta noite, entrou pela minha máquina adentro e pasmei.
Por muitas voltas que dê em redor de nós e tão perto do nosso planeta em termos astronómicos, este romântico astro continua a exercer sobre mim a mesma atração de sempre.
Como muitos outros ‘afilhados’ continuarei a chamar-lhe ‘madrinha’, fascinante ‘madrinha’ Lua…
Balsedo é como se designa um silvado, no linguajar monchiqueiro. Tal como a uma silva (Rubus fruticosus) se chama balsa.
Nos balsedos criam-se espontaneamente estas maravilhosas amoras silvestres.
Na verdade, trata-se dum arbusto com que qualquer agricultor não simpatiza absolutamente nada. Talvez porque ainda não se tenha descoberto a forma de o rentabilizar, por mais que não fosse, pelo aproveitamento do seu fruto. Ou pelos muitos espinhos que nos espeta em todo o corpo quando inadvertidamente tocamos nessa tal balsa…
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Como poderá verificar numa das fotografias, chegou a hora do amor para as cegonhas brancas que por cá permanecem todo o ano e para aquelas que, eventualmente, já tenham regressado da sua migração de inverno.
Andam todas muito atarefadas – em especial os machos – na guarda à sua casa prevenindo-se de ataques invasores de concorrentes às fêmeas e aos espaço que reocupam ano após ano.
De notar que valeram a pena as medidas protecionistas que foram tomadas há anos atrás quando se chegou a recear encontrar-se em perigo de extinção.
Atualmente, encontra-se numa situação pouco preocupante e julga-se que tenha recuperado para os níveis da primeira metade do século passado.
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Por vezes, basta darmos uns passos Natureza adentro e deparamo-nos logo com alguma das suas obras primas.
Neste caso, terá sido uma aranha que teceu a sua teia não prevendo que a chuva a pudesse surpreender durante a noite. Mas, para gáudio do fotógrafo, assim aconteceu.
Des que cmá Barraja do Alqueva nã há ôta na Êropa…
Despôs de ter devassado este vídeo, vá í prêbaxo e dê uma bispadela nos retratos e no lanedo q’ a gente fez, inqonto s’ andô no laré desna de manhã até nôte:
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Des que cmá Barraja do Alqueva nã há ôta na Êropa…
Inda tã alembrados da conversa q’ o mê compad Jôquim do Barranco me fez, ontordia, qondo ê cá le contí que tida id ver a Barraja d’ Odelôca com o parent Tóino Rosa, ó nã fazeram caso diss, cudando q’ a gent os dôs nã se era homens pa abalar caminh do Alqueva?
Pôs, se cudaram, tã munt mal inganadinhes, mês beles amigos… A gent pôs aquil à idéa, o mê compad arrenjô via e já se foi lá ver aquela mechas toda, fazemos boa viaja e já cá tames prontes pa ôtra. Só nã foi o parent Tóino Rosa q’ a gente quis-le mandar recad e nã tvemos portador. Im vez dele, foi o Zé Manel. O filho do compad Jôquim e da cmad Cstóida.
Calhô foi mal o dia nã ter tad um coisinh mái soalhêr. Nã sê se pre qui foi o méme, mái lá aquilo, o astro, teve quái semp toldad e inda panhamos com uns pings im cimba da orgada e tud. Coisa pôca, tamém se diga… que, lá pá banda da tarde, ele até aleviô um coisinh.
Tinha tanta água ó tã pôca q’ a comad Cstóida cudava q’ era o mar…
Mái, com respêt ô rest, foi tud do melhor. E a festa cmeçô log na viaja daqui pa lá, com o Zé Manel a ver se dava indròminad o pai. Aquil, o môce anda afalcoad de dnhêr, q’ ele tã bem o ganha cmo gasta log a seguir – com as moças ó lá com o q’ ele munto bem le dá nos cascs – e, atão, levô o caminho quái tôd a pertar com o pai pa fazer uma aposta.
– Mê pai, posto consigo cmá Barraja do Alqueva é munto maior qá da Odelôca!… Quem perder paga a bucha mái logo num restairante q’ ê cá é que sê. Aquil é jêtoso e, nã s’ abusando munto, fica mái ó menes im conta…
– Tás parv ó quem?!… Quem é que nã sabe q’ a do Alqueva é maior qá ôtra? Atã, des q’ aquilo vai dar à Espanha e ingoliu lá a Aldêa da Luz e tud… Queres fazer de mim inda mái nenso do qàquilo qê cá sô?!…
– Nã posta, nã posta, pronto… Mái, já agora, sabe qontas ilhas é q’ aquilo tem ô todo? Olhe que sã muntas…
– Isso nã sê, mái, calhando, inda tem pa lá um qôrtêrã delas…
– Ai um qôrtêrão!…
– Um cento?…
– Ai um cento…
– Quenhentas?…
Sê cá durante qontas léguas aquil ajunta água?!…
– Ai quenhentas… Mái de mil!… Posto consigo cme tã lá mái de mil ilhas… E nã precisa de ser o almoço. Posta-se só a garrafa do vinho pá gente buber no tal restarante.
– Olha que perdes… Mil é munta ilha, Zé Manel…
– Atã, poste. Tamém, que perca que ganh, uma garrafa de vinh nã é assim gand coisa…
– Tá bem. Tá postad. Uma garrafinha do tinto…
Ê cá, logo, nã liguí munto àquil. Mái o Zé Manel, que nã dá pont sem nó, tôdô caminho foi rapisando no caso. Até q’ ê cá vi q’ ali havia coisa. E havia q’ ê já les conto.
Despôs de se chigar lá e se bispar tudo o que se dé visto:
• Ele era tanta água ó tã pôca qa cmad Cstóida cudava q’ aquilo era o mar – inda pre cimba parcé um pêxe q’ nã les sê incarecer. Aquil era um deparate…
• A barraja a descarregar de tornêrada q’ aventujava a água lá pr’ aqueles ares – pro jêto, pa fazer elecsidad;
• A famila tudo de boca aberta, abismados com uma obra daquelas;
• E ôtras coisas más que nã adianta tar, agora aqui, a falar nelas;
Chigô, atã, a altura d’ ir cmer uma bucha lá ô tal restairante q’ o Zé Manel sabia. É que, desta vez, as mlheres fazeram-se rasmôlgas e nã trazeram farnel pá gente se rapimpar…
Diz ele:
Punhana, aquil a descarregar água pa fazer elecsidade, até urrava…
– Atã e agora, qontas ilhas tem a barraja? Tem ó nã tem mái de mil?…
– Nã nas contí, mái daqui vej pôcas…
– Ti Refóias, o q’ é que vomecêa diz? Nã le parêce que sã bem pa cima de mil? Diga lá… Diga, diga…
E dé-me uma pescadela d’ olho.
Ora, ê cá, tive que tirar pro moço… Atã havera d’ ir a favor do pai que tem munto mái posses qô filho?!… Dí-le logo os améns…
– Sim, Zé Manel, pr’ aquelas q’ ê tenh levad repáiro, hã-de de ser até um bel coisinh mái do que mil.
– Olhem, vocês os dôs tã-me a levar de trôxa mái tamém uma garrafa de vinh nã é assim nada prí além… Vamos lá más é buchar q’ ê tenh cá uma lazêra…
E lá abalames.
Chigados ô restairante, cada qual escolhé pa cmer lá munto bem o que le dé nas ganas – foi tud o méme: insopado de borreg… – e o Zé Manel foi falar com o homem lá ô balcão. Teve lá um pôcachinho, voltô pá mesa e diz assim cme quem nã quer a coisa:
A água tava um coisinh suja, mái, meme assim, parcia lá cada pêxe…
– Pronto, o vinh já tá incomendado. Agora vejam lá a figura que fazem. Nã bebam munt que ficam escarades…
Naquil, o homem com uma garrafa do tint, toda bjuda, já a le esptar o saca-rolhas. Abre-a – dé assim aquele estralo de ser uma pinga ô consoante – e despeja um coisinh só pô cop do cpad Jôquim.
Ele fcô a olhar pô copo, espècad, sem saber o que fazer…
– Vá, prove, mê pai. É pa ver s’ ele tá bom…
– Ora tá bom. Com uma cor destas… Encha más é o cop…
O impregad lá despejô pôs copos tôdes – menes pôs das mulheres, que dizem semp que nã gostam de vinh… – prantô a garrafa ali im cimba da mesa e foi-se imbora.
– Ó Zé Manel, tu q’ inda tens bons olhes, lê lá aí o rótalo pá gente saber o q’ é que se vai buber…
– … ora bem, Herdade do Esporão, Reserva 2006, 14,5%… E logo de litro e mêo… É um venhito más ó menes… Mái nã bebam munto que ficam escarados…
– Reserva?!.. Atã já tinhas incmendado isso pá gente, entes, foi?!… – Diz o cpad Jôquim do Barranco.
– Já, já, mê pai. Já lá vai pa quatro anos q’ ele tava aqui de reserva pá gente – Diz o Zé Manel, munto gozão, a antrar com o pai.
Nesse mê tempo, o homem vêo trazer o tal insopado e a conversa fcô pre qui. Comemes e bobemes, o mê compad aguenta pôco… já tava um coisinh escarad. E foi a sorte. Mái nã fez má figura.
Q’ assim, o Zé Manel pedi a conta e nã la amostrô:
Foi méme esta garrafinha q’ o Zé Manel incmendô pá mesa…
– Agora, traga aí uns cafézinhos e a conta. Mái, dê-me-a a mim q’ o mê pai tem munta falta de vista e nã alcança o que tá aí escrit. E o mê parente Refóias tamém já tá com os olhos um coisinh piscos…
Ê vi q’ ele tava tamém a fazer porra de mim, mái nã fiz caso. Cmo pai dele é que pagava a garrafa…
E sabem qonto é q’ ela le custô? Vô-les dzer aqui, mái vomecêas nã le contem nada. É q’ o homem inda hoje nã sabe q’ o Zé Manel pegô-le na cartêra, pagô a part deles os três e a coisa passô adiente…
Pôs, só a garrafinha, foram trintas eros!… Punhana!… Mái lá q’ ele era do bom, era…
E dali, sabem pr’ adonde abalames? Nem mái nem menes pra donde a tal garrafinha foi fêta: a tal Herdade do Esporão.
S’ ê cá, uma ocasião, tver jêt, logo les conto a nossa vsita a essa dita adega.