Apultana

Sabe o que é uma apultana?

Uma apultana, no linguajar monchiqueiro, é o conjunto de ás, duque e terno do mesmo naipe, no jogo dos Três Setes.

O jogador que tenha esse conjunto e o declare à mesa antes de começar a jogar, ganha de imediato três pontos.

Essa declaração chama-se acuso e aplica-se também para quem tiver três ou quatro ases, três ou quatro duques e três ou quatro ternos, beneficiando, nesse caso, de três ou quatro pontos de acordo com as cartas que tiver e declarar.

Veja apultana e acuso nas fotografias abaixo, mas pode consultar estes e muitos mais termos que fazem parte da cultura oral da Região de Monchique, adquirindo a 2ª edição do Glossário Monchiqueiro.

Apultana

Apultana de oiros

 

Acuso

Acuso de três duques

Abelhão (Bombus terrestris e Bombus lucorum)

 

Abelhão (Bombus terrestris)

O Abelhão  (Bombus terrestris), Mamangaba para os brasileiros, é uma abelha amigável de maiores dimensões do que a abelha vulgar.
Apesar do seu tamanho, não consta que alguma vez tenha molestado alguém. Pelo menos, que eu saiba.
Tem uma vivência relativamente solitária e desenvolve-se em pequenos agregados que, ao que dizem, nunca excede os duzentos indivíduos.
Seria interessante escalpelizar o seu relacionamento social mas não cabe aqui contar essa história. Fica para outra oportunidade…

Abelhão (Bombus Bombus lucorum)

Carriça (Troglodytes troglodytes)

A Carriça (Troglodytes troglodytes) é uma das mais pequenas aves que temos na nossa avifauna, pois não excede os 10 cm de comprimento.

O seu nome científico designa-a como habitante das cavernas, certamente porque tem o hábito de andar metida em buracos e lugares escusos na caça a artrópodes de que se alimenta.

Todos a conhecemos, no mínimo, pelo seu canto, simultaneamente melodioso e estridente, pois, nos seus tempos livres, não faz outra coisa que demonstrar os seus dotes musicais, pousada num qualquer lugar fresco e protegido.

É o macho que constrói o ninho para o oferecer à sua amada como dote. Ou melhor, constrói vários e dá-lhe a escolher. Ela decidirá segundo as suas preferências…

Carriça (Troglodytes troglodytes)

Abrulho

Sabe o que é um abrulho?

Um abrulho, no linguajar monchiqueiro, é um grelo ou gomo.

A palavra é habitualmente utilizada para designar os grelos das batatas mas também se usa para os gomos de qualquer planta quando no seu início de rebentação.

Veja abrulhos duma batata na fotografia abaixo, mas pode consultar este e muitos mais termos que fazem parte da cultura oral da Região de Monchique, adquirindo a 2ª edição do Glossário Monchiqueiro.

Abrulhos
Abrulhos

Flores de Azálea

Todas estas flores pertencem a plantas designadas genericamente por Azáleas e convivem entre si num pequeno parque (Cannizaro Park) nos arredores de Wimbledon, UK.

São da família da nossa ‘Adelfa’ (Rhododendron ponticum subsp. baeticum) que é endémica da Península Ibérica. Em Monchique, como todos sabemos, existe em pouco mais do que uma pequena área do cimo da Fóia e Picota.

O Banho do 29 (2010)

No Banho do Vinte Nove, premêro, rapimpamos-se com o decomerzinho qu’ a gente leva…

Este ano ninguém teve desculpa pa nã ir ô Banho do Vinte Nove. Carruaja havia com fartura qu’ a Junta e a Cambra trataram disso c’m’ fazeram ôs ôtes anos; o tempo tava do melhor, amoroso qu’ até dava gosto, que nem uma arajazinha se sintia. E, méme que muntos digam qu’ isto tá mau, qu’ a coisa tá ruim, eles inda vã p’ aí pagando as reformazalhas à famila… Que jêto a gente nã s’ ir advertir?!…

Foi o qu’ ê cá fiz más a minha Maria e uns tantos amigues. E nã dí o tempo pre mal impregue. Nem ê cá, nem eles. Eles, dig’ ê cá, qu’ a maior parte era elas. E elas, c’m’ mecêas sabem muntíssemo de bem, quái sempe, inda são mái danadas pá galhofa do qu’ ôs homens. E pôs que nã querem crer, olhem bem pôs retratos qu’ ê cá tirí e pôs filmes qu’ a minha mánica tamém fez que logo veem s’ a rezão tá do mê lado ó se nã tá…

D’zer a verdade, já ia pa uns dôs anos qu’ ê cá nã punha lá os pés. Nã que nã goste d’ ir, mái atão as coisas nem sempe calham a nosso favor… Olhem, o ano passado, nã sê se fui ê cá se foi a minha Maria – ó saria-se os dôs… – tava-se com uma catarrêra que nem pensar em im largar o monte. De manêras que f’camos pre qui. E há dôs anos, se nã tô atribuído, o tempo béque-me tava chuvoso que nã dé pa se fazer nada de jêto.

… muntas das vezes, méme p’ à famila da alta, até umas papas com temates dã jêto. E sâ guestosas, nã cudem…

Más olhem, desta vez, as coisas correram-me tã bem, tã bem que nem tampôco tive precisão da via da Cambra… Nas béspras, ó pa melhor d’zer, quái uma semana entes, tive logo aqui a oferta dum amigo que me levava a mim e á minha Maria e más os mês compadres. Foi o parente Cosme da Quinta.

Tá bem qu’ a via dele, uma camineta de caxa aberta, é já um coisinho usada – ora usada… tá quái fêta num caneco!… – e nã é lá gande coisa pa um serviço destes, mái c’m’ àquilo era pa s’ ir de nôte, tapados com o incerado qu’ ele tem lá, e a Guarda, a essas horas, calhando, eram capazes de tar a comer qualquer coisinha e nã andarem aí na estrada a charingar um e ôtro, pegamos na gente e foi-se tôdes. E inda mái uma pagela deles…

Iam tantos c’m’ dez amalhòfados debaxo desse tal incerado. Tirando o chòfer, o compade Jôquim do Barranco e a c’made C’stóida – qu’ esses, foram na cabine más a minha Maria – era ê cá, o Adelino da Desmoitada, um gozão do pior, o Arraúl Vàlise, que teve na França, o ti Luís Agúida, que tem um mata-velhos mái nã anda de nôte que tem medo, o Martinho do Almarjão, alomeado pre Pata-Rasa, o Tóino Luzicuco, sempe de cigarro na boca, o parente Zé Caçapo, Verruma le chamam, sempe a sovinar, e fico-me pre qui qu’ os ôtes iam tôdes acuados ô canto do taipal e já nem m’ alembra bem quem eles eram…

… bebe-se-le, tamém, um calcesinho dela. Da boa, tá bom de ver…

Nôtes tempos, nã era nada disto. O mái que se podia arrenjar era um carro de besta com uns sês ó sete lugares, nã contando com o carrêro. Quem nã t’vesse carro de besta ó d’nhêro pô alugar, qu’ era o que se dava com quái tôdes, ia a pé ó, calhando a terem um burro na arramada, amontavam-se nele, à vez, e passadas umas quatro ó cinco horas, chigavam o sê destino deles, na Praia do Vau.

Mái nã cudem, lá p’r isso, a galhofa nã f’cava nada atrás do qu’ a famila faz hoje im dia… Mái pra más do que pra menes. Nã veem, é qu’ ir désna de Monchique – levem bem repáiro que d’zer Monchique é o mémo que falar na Serra toda; é o concelho duma ponta à ôta – até à Praia do Vau de carro de besta ó a pé inda levava umas belas horas e a famila tinha qu’ ir logo adiantando algum serviço…

De manêras que, ia-se andando e c’mendo. Uns pexinhos da horta, uns coisinhos de chôriça, uma felhòzinha, umas coisinhas assim… E pa impurrar isso tudo pas goélas abaxo e nã imbassar, o qu’ é qu’ uma pessoa podia fazer?… Tá claro, bubia-se-le uns porrêtes… Ora aquilo dava cá uma enfluêinça!… Nem o caminho custava a andar…

… charola-se e balha-se um belo pôcachinho pa desmoer a pelharcada…

Esta conversa fez-me vir à idéa o que se dé desta vez. O Tóino Luzicuco, sempe com a mania do fumar, que nã pode passar, tava-se a gente tôdes munto bem sa senhora boa vida amalhòfados debaxo do incerado, puxa da su onça ‘Águia‘ dele e do sê livro de papel béque-me da méma marca, tira uma mortalha, despeja-le um coisinho de tabaco pa drento e vá d’ inrolar. Pensí cá pra mim:

– Nã me digam qu’este saganheta vai-se pôr a fumar aqui mémo num sito destes…

Inrolô, inrolô… passô-le cuspinho com a língua na ponta da mortalha, deslizô-le o dedo duma ponta à ôta p’ àquilo colar, dé umas batidinhas com a ponta do cigarro na unha do dedo grande – há quem le chame o mata-piolhos… – e pôse-o na boca. Inda ramordí cá pra mim:

– Eh’q, aquilo, calhando, é só pa ele matar o viço e nã no acende… Senã a gente inda cuda de morrer aqui com falta d’ ar e desata tudo a tossir.

Qual o quem?!… Tã penas olho ôta vez pa ele, já o marafado tinha tirado uma caxa de forfes da alsebêra e toca de puxar um forfe pô acender. Mái, às escuras, o Tóino nã fechô bem a caxa. Ora, nesse mê tempo, o parente Cosme teve que fazer uma travaja a fundo… Só mái tarde é que sube que se l’ atravessô um bicho na frente da camineta… Ele bem qu’inda riscô o forfe, sa senhora, e acendeu-o, mái atão, com o balanço, os ôtes desparceram tôdes da caxa… Desata tudo numa risada:

… e só despôs é que s’ afituramos a ir pa drento d’ água…

– Ai Tóino que lá se foram as tuas acendalhas todas!… E, calhando, o cigarrinho tamém…

– Nã queria mái nada!… O cigarrinho tá aqui na boca e este forfe inda tá im chama. Dêxa-me lá acender o cigarro entes qu’ ele s’ apague…

– Olha lá nã sabes que nã é atorizado fumar im sitos fechados?!… Nã vês qu’ isto aqui é c’m’ se fosse lá na venda do Alferce… Eles lá dêxam-te fumar?…

– Nã vejo aqui nenhum papel na parede a d’zer o contráiro. De manêras que nã se ponha com coisas. Más a más qu’ o sito é bem arejado…

E pôs-se a ver se dava panhado os forfes que tinham caído. Mái atão, com o vento que antrava pa drento do encerado com o andar da camineta, adonde é qu’ eles já tavam… Nem um…

– Bem fêta, qu’ é p’ à ôta vez respêtares. E, agora, munto bem me calhava qu’ o vento tamém te levasse o cigarro da boca…

E dí uma piscadela d’ olho ô ti Zé Caçapo. Ele, pre alguma rezão le chamam o ‘Verruma’, intendé logo, vai assim p’ trás do Tóino Luzicuco, c’m’ quem nã quer a coisa, dá-le um toque de lado com uma mão, ele volta a cara, ô méme tempo, dá-le ôtro toque no cigarro com a ôta mão, lá vai ele pros ares…

Otra risada im forte… Más aí, o Tóino f’cô um coisinho sintido e desatô a d’zer alarvidades. Se nã é o ti Zé Caçapo ser um homem duma certa idade, nã sê nã sê… Inda vi jêtos do Tóino se jogar a ele. Mái a coisa lá atamancô e, dali a um nadinha, tava-se a chigar à Praia do Vau.

… ô fim, volta-se p’ra casa, tôdes sastefêtes, com a trugia toda às costas…

Do que se passô lá méme na arêa da praia já mecêas hã-de saber. Foi tudo munto advertido, a famila incheu tudo o bandulho até mái não. De coisas pa buber, só f’cô lá a água do mar. Quái tôdes balharam, cantaram e uns tantos que t’veram mái fôiteza sempe se jogaram à água pa se lavajarem e p’ à SIC filmar.

Só o que les sê d’zer é que inda pus os caguetes tamém drento d’ água e, d’zer a verdade, nã na achí munto fria, mái c’m’ à minha Maria se tinha desquecido da toalha im casa e as cirôilas qu’ ê cá levava eram novas nã me dava jêto molhá-las logo, só cheguí com a água pros artelhos. Mái hôve menino que antrô lá pa drento e quái que já nem queria sair. Ôtes, atão, insiavam-se duma tal manêra qu’ ê cá até os ôvia méme ali à babuja. E, no mêo daquilo tudo, inda béque-me hôve lá um que vinha a arrabolar inrolado numa onda…

Querendem ver videos e retratos do que se passô lá, vã ô Parente da Refóias na internet.

Dés le dê saúde.

Almêxár

Sabe o que é um almêxár?

Um almêxár, no linguajar monchiqueiro, é uma secagem de maçarocas (espigas de milho), feita ao ar livre diretamente ao sol.

A palavra em português corrente é almanxar e é proveniente do árabe, que tinha exactamente o mesmo termo para designar secagem.

No Algarve (designação monchiqueira de Algarve Litoral) a palavra significa secagem de figos, naturalmente. Só que na Serra de Monchique não se secam figos…

Veja um almêxár na fotografia abaixo, mas pode consultar este e muitos mais termos que fazem parte da cultura oral da Região de Monchique, adquirindo a 2ª edição do Glossário Monchiqueiro.

almêxár

 

Galinha-de-água (Gallinula chloropus)

Galinha-de-água (Gallinula chloropus)
Galinha-de-água (Gallinula chloropus)

A Galinha-de-água (Gallinula chloropus) é uma ave aquática que se pode observar em muitos rios e ribeiras, barragens, lagoas e até charcas. Tem um bico inconfundível de que sobressaem as cores vermelho e amarelo intenso.

Galinha-de-água (Gallinula chloropus)
Galinha-de-água (Gallinula chloropus)

É muito territorial e extremamente agressiva para com os intrusos pelo que são constantes as lutas entre concorrentes da mesma família.

Galinha-de-água (Gallinula chloropus)
Galinha-de-água (Gallinula chloropus)

Curiosamente essa agressividade contrasta com a meiguice e carinho com que trata das crias que, assim que nascem, começam logo a explorar as redondezas do ninho que, habitualmente, está localizado no meio dum reservatório ou curso de água.

Tem um ‘parente’ muito chegado, o Galeirão-comum (Fulica atra), que frequenta o mesmo habitat e tem comportamentos muito semelhantes, de que oportunamente apresentarei também algumas fotografias.

Galinha-de-água (Gallinula chloropus)

A Galinha-de-água (Gallinula chloropus) é uma ave aquática que se pode observar em muitos rios e ribeiras, barragens, lagoas e até charcas. Tem um bico inconfundível de que sobressaem as cores vermelho e amarelo intenso.

É muito territorial e extremamente agressiva para com os intrusos pelo que são constantes as lutas entre concorrentes da mesma família.

Curiosamente essa agressividade contrasta com a meiguice e carinho com que trata das crias que, assim que nascem, começam logo a explorar as redondezas do ninho que, habitualmente, está localizado no meio dum reservatório ou curso de água. Tem um ‘parente’ muito chegado, o Galeirão-comum (Fulica atra), que frequenta o mesmo habitat e tem comportamentos muito semelhantes.

Oportunamente, mostrarei aqui algumas fotografias suas.